História do Grande Oriente do Brasil 1822 – 2011

Um conjunto de fatores suscitou a decisão de escrever sobre o assunto, mas, especialmente, a percepção de que nenhuma das Potências Maçônicas, daqui do Rio Grande do Sul, registra em seu site texto a respeito, motivo pelo qual o primeiro intento foi de pesquisar e, sob essa condição, apresento essas poucas linhas aos Maçons que presentemente se interessam em ter uma pequena noção da história e, também, para as gerações futuras conhecerem, em resumo, os fatos Maçônicos ocorridos em nosso Estado.

Ressalte-se que a história da Maçonaria Gaúcha traz em si as Lojas filiadas às três Potências que se constituem no Grande Oriente do Brasil – Rio Grande do Sul; Grande Loja Maçônica do Estado do Rio Grande do Sul; e do Grande Oriente do Rio Grande do Sul.

A Grande Loja Maçônica do Estado do Rio Grande do Sul surgiu de uma reunião ocorrida em Bagé, no dia 8 de janeiro de 1928, com a participação das Lojas: “Rocha Negra” de São Gabriel; “Caridade Santanense” de Santana do Livramento; “Fraternidade” de Pelotas; e “Amizade” de Bagé;[1] as quais decidiram acompanhar a tese de que deveria prevalecer as normas internacionais do Rito Escocês que estabeleciam a independência dos Supremos Conselhos em relação aos graus simbólicos, proposição essa defendida pelo Irmão Mário Marinho de Carvalho Behring, fato que se concretizou em 1927, com a criação das Grandes Lojas estaduais,[2] evidentemente motivada por oposições manifestadas quando do concurso ao cargo de Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil, em que participaram do pleito os Irmãos José Maria Moreira Guimarães e Mário Marinho de Carvalho Behring,[3] que, no caso, além de uma polêmica eleição, teve a implicância de a junta designada, para a apuração dos votos, ter anulado os sufrágios, em grandes proporções, para ambos os lados, mas principalmente os do General, de tal maneira que Behring acabaria sendo eleito com 1.410 votos, quando só em São Paulo, Moreira Guimarães havia recebido 1.643 votos.[4]

Desse desentendimento ocorreu a primeira grande cisão de 1927.

A vista disso, o Supremo Conselho, diante das leis universais do Rito Escocês, não podia manter sob sua jurisdição direta as Lojas Simbólicas, incentivou a criação em todos os Estados a sua respectiva Grande Loja Simbólica, que goza da absoluta soberania, provendo, pois, os destinos da Maçonaria Simbólica no Estado.[5]

Na atualidade, somam em torno de duzentos e vinte as Lojas Jurisdicionadas à Grande Loja do Estado do Rio Grande do Sul.[6]

Quanto ao Supremo Conselho antes mencionado, que é originário da Carta Patente recebida do Supremo Conselho dos Países Baixos, atual Bélgica, de modo um pouco diferente, a história é narrada no seguinte teor. Veja-se:

A celebração do tratado de Aliança Fraternal entre o Grande Oriente do Brasil e a Grande Loja Unida da Inglaterra, em 6 de maio de 1935, foi o ponto alto da Administração recém-instalada do Grão-Mestrado do Ir. José Maria Moreira Guimarães (1933-1940), compensando-lhe parcialmente os insucessos que auferia na IV Conferência dos Supremos Conselhos em Paris, em 1929, o que foi mantido quase que como um segredo administrativo, quando não, como fato que deveria ser sanado com o passar do tempo junto as Obediências internacionais dos altos graus onde, como representante do Supremo Conselho do Grande Oriente do Brasil.

Na IV Conferência, organizada e presidida pelo Ir. René Raymond, Soberano Grande Comendador do Conselho da França, amigo particular do Ir. Mário Behring, não havia oportunidades para os intentos do Ir. Moreira Guimarães, efetivamente portador das credenciais de plenipotenciário do Grande Oriente do Brasil e não de um Supremo Conselho Autônomo e Soberano. O Irmão Moreira Guimarães, escolhido especialmente pelo Grão-Mestre Ir. Otávio Kelly, não possuía o perfil diplomático necessário e teve o precoce desprazer de ser barrado ainda na apresentação de credenciais, posto que em duas importantes etapas de apresentação de credenciais teve a participação negada. Foi barrado especialmente pela Comissão de verificação de Poderes, presidida pelo Ir. Armand Puissand, Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho da Bélgica que acusou a falta de uma autonomia de um Supremo Conselho que existia sob o controle de uma Obediência do Simbolismo.

O Ir. Moreira Guimarães {…} alegou {…} que a delegação enviada por ele havia sido injustiçada por não poder apresentar suas alegações às comissões encarregadas pelas auditorias das credenciais, exclusivamente por conta de “manobras” efetuadas pelos representantes do Irmão Mário Behring.[7]

A fim de melhor formar singular opinião, acerca dos escritos precedentes e considerar a sua autenticidade ou não, é importante transcrever os fatos notáveis ocorridos, em particular, sobre o Supremo Conselho:

12.03.1829 Francisco Gomes Brandão (Francisco Gê Acayaba de Montezuma, Visconde de Jequitinhonha), recebe Carta Patente do Supremo Conselho dos Países Baixos – atual Bélgica – autorizando-o fundar o Supremo Conselho no Brasil.

12.11.1832 Fundado o Supremo Conselho para o Império do Brasil do Rito Escocês Antigo e Aceito.

13.07.1925 Ir. Mário Martinho de Carvalho Behring renuncia ao cargo de Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil.

11.11.1925 Embora já houvesse registro dos estatutos do Grande Oriente do Brasil como potência mista (graus Simbólicos mais Filosóficos), englobando o Supremo Conselho, desde 1907, o Grão-Mestre e Soberano Grande Comendador Mário Behring registra novos estatutos independentes, certamente planejando a cisão de 1927.

19.06.1927 Mário Behring, em reunião secreta, realizada fora do Palácio do Lavradio, declara a separação entre o Supremo Conselho e o Grande Oriente do Brasil.

20.06.1927 Na reunião do Supremo Conselho do Grande Oriente do Brasil, renunciam 13 dos 25 membros efetivos, liderados por Mário Behring, o que oficializa a dissidência das Grandes Lojas.

03.08.1927 Mário Behring lança um manifesto às Oficinas Escocesas do Brasil e o decreto nº 7, declarando irregular o Grande Oriente do Brasil, mais tarde revogado pelo Soberano Grande Comendador Alberto Mansur.[8]

Constata-se, pois, que, de 1832 a 1927 – durante noventa e cinco anos – portanto, o Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil era, ao mesmo tempo, o Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho. Por isso que as histórias de ambos, neste período, confundem-se em sua grande parte.

Acerca do que aconteceu no passado, cada leitor está apto para concluir o que foi construído com correção e o que foi feito de modo errôneo, até porque o mau exemplo, ou o que é reprovável, nos ensina a não retornar a leva-lo a efeito.

As circunstâncias atuais, entretanto, apresentam-se com mais serenidade e respeito, ainda que persista a divisão da Maçonaria, em três Potências, e, no que diz respeito à intervisitação, entre os Maçons do GOB e do GORGS, esteja muito embaraçosa, por questões conexas às fontes formais do Direito Maçônico, mas, como referido, cônscios de seu dever, a maioria dos Maçons que exercem influência, tencionam para uma fraternal convivência ou, harmoniosamente, idealizam e tomam a defesa para uma possível Maçonaria Universal.

Mas, ante a cisão de 1927, que originou a criação da Grande Loja Maçônica do Estado do Rio Grande do Sul, e, em consequência da oficial cisão datada de 1973, com a rejeição de qualquer sujeição, ao Grande Oriente do Brasil, do Grande Oriente do Rio Grande do Sul, tanto a primeira quanto este último são Instituições autônomas, razão pela qual, a contar das datas mencionadas têm sua história própria quanto ao seu surgimento, processo de desenvolvimento e nas ações e obras para a construção social.

É importante referir que no período anterior a “cisão” entre o GOB e o GORGS, em 1973, federadas ao Grande Oriente do Brasil – GOB – no Rio Grande do Sul, haviam mais de cem Lojas. Após a cisão, todas as Lojas no Estado optaram pelo GORGS, há exceção de apenas 7 (sete) que permaneceram federadas o GOB, a saber:

N.º LojaNome da LojaFundaçãoOriente
520Estrela de Jerusalém06.07.1896Porto Alegre
1178Justiça e Perfeição06.05.1943Porto Alegre
1179Philantropia do Sul22.02.1933Rio Grande
1553Tiradentes VI21.04.1959Porto Alegre
1700Rio Branco VI26.05.1962Canoas
1773Sir Alexander Fleming21.06.1969Porto Alegre
1774Sepé Tiaraju12.04.1969Porto Alegre

Há uma oitava Loja que, inicialmente, estaria concorrendo para figurar entre as sete Lojas, a Acácia Rio-grandense, de Rio Grande, fundada em 19.09.1967, mas segundo Carlos Dienstbach, a referida Loja, voltou ao GOB em 25 de agosto de 1973, onde terminou adormecendo. E, em contrapartida, a Loja Rio Branco VI, segundo o mesmo autor, em 6 de setembro de 1973, permaneceu fiel ao GOB.[9]

A Loja Redempção III, do Oriente de São Leopoldo, também fundada em 1.º de fevereiro de 1896, permaneceu fiel ao Grande Oriente do Brasil, {…} mas, a partir de 7 de junho de 1910, passou a ser inscrita ao GORGS, por motivo do acordo existente entre as duas Potências. No período da 1.ª Guerra Mundial, (1914-1918), no entanto, a frequência dos filiados passou a diminuir gradativamente {…} 9 de agosto de 1918 é a data da última Ata registrada em livro, mas, oficialmente, ela abateu Colunas em 4 de novembro de 1919.[10] Foi reerguida no ano de 1985 com a liderança de Darcy de Araújo.[11]

Há que se registrar, também, que, de acordo com o E. Acadêmico Orci Paulino Bretanha Teixeira, relativamente a própria história da ARLS Justiça e Perfeição, já na Ata n.º 1 consta que se não pertencer ao Grande Oriente do Brasil passaria ser independente.[12] Aliás, é o registro no referido Balaústre: {…} reuniram-se os IIrm. {…} com o fim de fundarem uma Loja maçônica a qual seria filiada ao Grande Oriente do Brasil, caso o mesmo aceite sua filiação, ao contrário será independente por estatutos próprios.[13]

A respeito da história da Maçonaria Gaúcha, a Dr.ª Eliane Lucia Colussi, em Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação em História, da Pontifícia Universidade Católica do RS, elaborou um magnífico trabalho, e lançou o Livro A Maçonaria Gaúcha no Século XIX.

Na referida obra, citando Dante de Laytano, registra que as primeiras lojas foram, por certo, de iniciativa de um pequeno número de maçons, iniciados nos segredos da ordem no centro do país ou, mesmo, no exterior e que criaram ou encontraram espaços de atuação nos clubes ou sociedades de cunho liberal. O exemplo mais expressivo foi, sem dúvida, o Continentino, cuja ênfase se deve ao fato de ser o mais bem documentado;[14] com isso, não se descarta que outras sociedades ou gabinetes de leitura tenham sido embriões maçônicos. Segundo Laytano, a vinculação entre essa sociedade literária e a maçonaria foi inquestionável: Primeiro editou um jornal, em seguida, abriu uma escola; e depois instalou um gabinete de leitura; mas sempre como sociedade secreta; até que se regularizou como loja maçônica com o nome de ‘Filantropia e Liberdade’, filiando-se ao Grande Oriente do Lavradio, em 1832.[15]

Como no restante do Brasil, o espírito associativo dos clubes e sociedades literárias e políticas era um campo fértil de difusão do pensamento de vanguarda do século XVIII, oriundo da França e da Inglaterra. O mesmo autor informa que eram comuns as reuniões secretas nas quais se decidiam os rumos da rebelião e que esses clubes eram lojas maçônicas mais ou menos regulares. Organizavam-se como sociedades secretas, onde o espírito revolucionário se poderia expandir com todas as forças que o animavam. Às vezes se rotulavam com os títulos de ‘gabinetes de leitura’ ou de ‘sociedade literária.[16]

Por isso que é verdadeiro o assentamento feito por Antônio Augusto Fagundes sobre a agremiação de Maçons em oficinas de trabalhos denominadas Triângulos, especialmente, no que tange as Lojas fundadas nas cidades próximas às fronteiras. Veja-se o registro:

Na Europa, muitos argentinos se iniciaram na Maçonaria. Entre eles José de San Martin e Carlos Alvear, que logo serão próceres importantes no sul da América. De regresso à Argentina, fundaram em Buenos Aires a Logia Lautaro que foi a madre de muitas Lojas Maçônicas do Prata. Em Porto Alegre se organizam Triângulos e Lojas sob o disfarce de Gabinetes de Leitura que se espalham também em Rio Pardo, Pelotas e Rio Grande. Bento Gonçalves da Silva e muitos liberais (e alguns conservadores também) eram Maçons e isso foi decisivo para o 20 de setembro – como, aliás, foi decisivo também em muitos acontecimentos durante o Decênio Heroico e até na Paz de Ponche Verde. Claro, os Maçons trabalham em silêncio e seus documentos são secretos. Muitos desses documentos se perderam ou foram ocultados e pouco emerge de seu conteúdo {…}.[17]

De fato, a primeira loja maçônica que comprovadamente se instalou no Estado, a Filantropia e Liberdade, foi originária desse gabinete de leitura, fundado em 25 de dezembro de 1831, na cidade de Porto Alegre, pelo Grande Oriente do Passeio.[18] Porém, logo depois, ela já trabalhava sob os auspícios do Grande Oriente do Brasil.[19] Fizeram parte dessa loja muitos dos membros do gabinete de leitura, tais como Xavier Ferreira, padre Bernardo José Vieira e Victorino José Ribeiro.[20]

A mesma historiadora relata as outras Lojas instaladas de forma regular, antes da eclosão da Revolução Farroupilha, quais sejam: Razão e Virtude, em Santo Antônio da Patrulha, fundada em 1833; sob os auspícios do Grande Oriente do Brasil; Fidelidade e Firmeza, em Porto Alegre, também fundada em 28 de setembro de 1833;[21] subordinada ao Grande Oriente do Passeio[22] Perfeita União, em Porto Alegre, fundada em 20 de novembro de 1833, e Asilo da Virtude, em Rio Grande, fundada em 10 de dezembro de 1833. Dessas primeiras lojas identificadas, três são de iniciativa do Grande Oriente do Passeio e duas do Grande Oriente do Brasil.[23]

Relaciona mais, apesar da instabilidade, as que foram instaladas durante o período revolucionário: a União Geral, em Rio Grande, no ano de 1840,[24] pelo Grande Oriente dos Beneditinos,[25] loja que mudou de nome em 1848 para União Constante e que está em funcionamento até nossos dias; União e Fraternidade, em São Leopoldo, em 1840, funcionando até 1860; Harmonia Rio-Grandense, em Pelotas, em 1841; Protetora da Orfandade, de Pelotas, em 1843, que, em 1853, se fundiu com a União e Concórdia, e a Loja Humanidade e Justiça, de Porto Alegre, em 1845.[26]

O General Calvet em sua obra a Rocha Negra narra algo aparentemente desconhecido e interessante, ou seja, que: a “Fidelidade e Firmeza”, {…} era subordinada ao Grande Oriente do Passeio,[27] do senador Nicolau Vergueiro.[28]

Sob outra perspectiva, a fim de entender o enredo que se constitui como os fatores de relevância e que geraram dissidências dos Maçons gaúchos com o Poder central da Maçonaria, é preciso trazer ao lume os primeiros propósitos do Grande Oriente do Brasil, que deixou transparecer a sua preferência política pelo regime republicano presidencialista. Isso se traduz em só lembrar as figuras proeminentes de Joaquim Gonçalves Ledo, Cônego Januário da Cunha Barbosa e José Clemente Pereira, fundadores do GOB e expoentes máximos da corrente maçônica no âmbito da novel instituição então criada.[29]

No Rio Grande do Sul, para muitos maçons houve desagrado causado pelo fim do Império e com a Proclamação da República, agitando significativamente os meios políticos, tanto para republicanos quanto para monarquistas.

A história nos revela que o conselheiro Gaspar Silveira Martins foi substituído por Júlio de Castilhos, destacado prócer republicano, e, este, com a intenção de consolidar um novo regime, proveu uma campanha de perseguições políticas contra os monarquistas que, neste estado, eram numerosos e bem situados socialmente e, assim, as facções, republicanas e monarquistas, travaram uma intensa luta que resultou rebelião inútil, consequência da Revolução de 1.893, durante a qual foram praticados crimes hediondos, por ambas as partes em conflito político.

Ao mesmo tempo, as Lojas Maçônicas do Rio Grande do Sul que, em sua maioria, eram federadas ao Grande Oriente do Brasil, e frequentadas por maçons republicanos e monarquistas indistintamente, que antes mesmo do início da Revolução de 1.893 estavam esperançosos com uma solução amigável entre as partes, politicamente adversas, até porque tanto Júlio de Castilhos quanto Gaspar Silveira Martins eram maçons, acreditavam no poder político do Grande Oriente do Brasil, contanto ainda que o próprio Presidente da República, Floriano Peixoto, estava intimamente ligado ao GOB, e, por isso, constantemente dirigiam-se a este que se mantinha silente, talvez, por conveniência política, em benefício da unidade maçônica nacional, e deixou que o tempo corresse e trouxesse a paz tão desejada por todos os irmãos, o que refletiu em mágoa e ressentimentos contra ao referido Poder Central, que para a maioria do maçons gaúchos passou a ser objeto de dúvidas, desprestígio e fraca credibilidade política.

Assim, alguns maçons gaúchos, de grande influência e prestígio político, entenderam que a Maçonaria do Rio Grande do Sul, à semelhança da Paulista, deveria se desligar do GOB, e criar uma Unidade Maçônica Estadual independente, e sob esse juízo, no dia 14 de outubro de 1893, fundaram o Grande Oriente do Rio Grande do Sul, com o fim de deliberar por si mesmos sobre as providências necessárias à pacificação da sociedade gaúcha, então aterrorizada com a Revolução de 1893.

De início, poucas Lojas aderiram ao Grande Oriente Autônomo Gaúcho, mas, com o passar do tempo a maioria das Lojas se filiaram ao GORGS, dando-lhe solidez e força política necessária à solução dos problemas maçônicos regionais, e, dessa maneira, o Grande Oriente do Brasil ficou em posição secundária e a geração de novas Lojas e as regularizadas passavam para o Grande Oriente do Rio Grande do Sul, algumas alegando como causa de sua transferência problemas econômicos.

O GOB reagiu numa tentativa de recuperar a sua antiga posição maçônica no Estado e fez vários convênios com o Grande Oriente do Rio Grande do Sul, todos de pouca duração, como se pode constatar:

• Acordo de Fraternal Convivência, feito com o GORGS, em 20.09.1909, rompido em 20.07.1915. Duração: 5 anos e 10 meses.

• Acordo Modus Vivendi GOB-GORGS, em 29.01.1925. Duração: caiu no esquecimento.

• Incorporação do GORGS ao GOB, em 20.02.1.960, desfeita em 28.05.1973. Duração: 13 anos, dois meses e 8 dias.

Como se vê, a relação do GOB e GORGS sempre foi instável no Rio Grande do Sul.[30]

Esses fatores narrados, e as eleições para os cargos de Grão-Mestre Geral e Grão-Mestre Geral Adjunto do Grande Oriente do Brasil, realizadas em março de 1973, dez Grandes Orientes Estaduais, federados ao Grande Oriente do Brasil, desligaram-se deste proclamando-se Obediências autônomas e independentes.[31]

Entre as razões apontadas, em especial, a omissão do GOB perante os ódios políticos que se desencadeavam de uma maneira horrorosa no seio da família gaúcha para o novo rompimento consta o descontentamento ou a inconformidade dos gaúchos nas eleições gerais ocorridas naquele ano, com a proclamação dos candidatos oficiais eleitos.[32]

De acordo com os registros do seu sitio, conta-se por volta de duzentos e trinta Lojas Jurisdicionadas ao Grande Oriente do Rio Grande do Sul.[33]

Apresentadas essas considerações relativamente a Grande Loja Maçônica do Estado do Rio Grande do Sul e sobre as relações encadeadas com o Grande Oriente do Rio Grande do Sul, é imprescindível tornar a escrever e explicitar em apoio a afirmação de que os acontecimentos relacionados ao Grande Oriente do Brasil – Rio Grande do Sul – GOB/RS estão ligados por vínculos a um Poder Central, devido a distribuição de um sistema federativo, portanto, por subordinação ao Grande Oriente do Brasil – GOB.

Há que se levar em conta, portanto, que a representação do Grande Oriente do Brasil – GOB, no Rio Grande do Sul – mais eficiente e autêntica, nesse período, não passou de modestas delegacias sem autonomia e credencias, a altura do prestigio da referida Potência Maçônica. Aliás, o papel desta sempre foi secundário, e só lembrado para fazer concessões, com amparo no seu reconhecimento e amplas relações internacionais.[34] Sob o mesmo ponto de vista, após a cisão de 1.973, tornou-se mais confusa com a decisão da justiça negando a reintegração de posse que o GOB pedira, numa tentativa de restabelecer Contrato de Incorporação do GORGS ao GOB. O momento era de instabilidade, e o desânimo grassava entre os irmãos que ficaram fieis ao Poder Central.[35]

Em meados da década de setenta, o Irmão Rosalino Dutra de Araújo, em contato com o Soberano Grão-Mestre, Osmane Vieira de Rezende, sugeriu a criação de um Grande Oriente Estadual, federado ao GOB, no Rio Grande do Sul, sob o entendimento de que a medida geraria uma maior coesão entre os irmãos que ficaram fieis ao Poder Central. A resposta, no entanto, foi negativa, porque estava confiante de que a justiça determinaria a reintegração do GORGS ao GOB.[36]

Posteriormente, em 1978, com os mesmos argumentos:

Convenceu o novel Grão-Mestre Geral do GOB, o Senador Osires Teixeira, com o qual contraiu aliança, tanto que, por indicação da Loja Tiradentes VI, o Irmão Rosalino foi nomeado Delegado do GOB no Rio Grande do Sul.

No dia 14 de julho do 1.981, por força de um Decreto do Soberano Grão-Mestre Osires Teixeira, as Colunas do GOESUL foram colocadas na Vertical, dando-lhe Força e Vigor Funcional.

As dificuldades iniciais foram enormes, incluída a oposição sistemática de alguns irmãos discordantes da criação desta Unidade Maçônica. Com o tempo, essa oposição foi enfraquecendo como decorrência da irreversibilidade do ato de fundação do Grande Oriente Estadual Sul Rio-Grandense.

Para nos auxiliar na administração provisória do GOESUL, obtivemos a colaboração de dois grandes irmãos: Irmão Heráclito Victória (já no Oriente Eterno) para exercer o Cargo de Tesoureiro, e do Irmão Harry Antunes, para o Cargo de Secretário. Ambos exerceram as suas atividades até a posse da primeira Administração eleita, em 1.983.

A Sessão Magna de solenidade da fundação do GOESUL foi presidida pelo Soberano Grão-Mestre Geral do GOB, Senador Osires Teixeira, na qual compareceram as mais altas autoridades do Estado do Rio Grande do Sul, e representantes de outros Estados da Federação, convidados especiais. Com destaque estiveram presentes ou Representantes do Sr. Governador do Estado do Rio Grande do Sul, da Assembleia Legislativa Estadual, do Poder Judiciário Estadual e, pessoalmente, o Sr. General de Exército Túlio Chagas Nogueira, Comandante do III Exército.

Em 1.983, foi realizada a primeira eleição para o preenchimento do Cargo de Grão-Mestre do GOESUL.

O GOESUL passou por um processo de purificação orgânica, naturalmente. Os respeitáveis irmãos que discordavam de sua criação ou que lhe faziam restrições funcionais se afastaram, transferindo-se para outras Potências coirmãs ou reformularam suas opiniões, passando a colaborar e admiti-lo como legítimo representante do GOB neste Estado.[37]

Incorporado à citação precedente, de acordo com informação outorgada pelo Eminente Irmão Colombo, a fim de se perfazer a mais lídima justiça, é preciso registrar que, juntamente com o Irmão Rosalino Dutra de Araújo o Irmão Heráclito Victória e o Irmão Harry Antunes foram os autênticos criadores do antigo GOESUL.

Com essa estrutura embrionária, o GOB passou a ter uma Representação legítima, originária do Poder Central, através do Decreto n.º 005, de 26 de fevereiro de 1981, do Grão-Mestre Geral do GOB, rerratificado pelo Decreto n.º 037, de 3 de junho de 1981, com seu prestigio reconhecido e consolidado, convivendo em paz e em plena comunhão fraterna com as Potências Maçônicas coirmãs de todo o Brasil e, particularmente, com os irmãos e Lojas das Potências Maçônicas regulares do Rio Grande do Sul.

Ocorre que, em meados de 2002, o então Deputado da ARLS Fraternidade Vicentina n.º 2895, Irmão José Rodrigues do Nascimento em companhia de mais dois Deputados Irmãos Joaquim Guedes de Souza e José Fernando Mariú Mariani, participaram da Reunião das Assembleias do Cone Sul, em Curitiba, oportunidade em que tomaram conhecimento da ideia de alterar a designação de GOESUL para GOB-RS, junto ao GOB-PR, primeiro Grande Oriente Estadual a adotar a denominação semelhante ao que constitui a usada pelo Poder Central, obtendo cópia da documentação destinada a reprodução para imitação, e, ao natural, logo no início do Grão-Mestrado do Irmão Mário Juarez de Oliveira foi enviada proposta de emenda Constitucional para a Assembleia que a aprovou.

Assim, em 2 de abril de 2004, com a aprovação da Emenda Constitucional pela Poderosa Assembleia Legislativa Estadual, a sua denominação foi alterada para Grande Oriente do Brasil – Rio Grande do Sul, passando a utilizar a nova sigla: GOB-RS.

O Grande Oriente do Brasil – Rio Grande do Sul vem crescendo com o que se exprime a respeito de qualidade, como também, ainda que com lentidão, em quantidade, mas de modo consistente. Na atualidade, conta com mais de oitenta e quatro Lojas regulares e dois mil e quatro Maçons filiados.[38]

Nessa mesma grandeza e com o mesmo espírito que anima a coletividade Maçônica, para tornar efetivo o princípio da Fraternidade, mais explicitamente sob o anseio da unificação da Maçonaria Brasileira, há a propensão de acolher em nosso círculo os Irmãos filiados às entidades Maçônicas que não constam da “List of Lodges”, emitida pelo Comitê de Regularidade das Grandes Lojas da América do Norte, a fim de pôr em bom caminho o empenho contra a irregularidade.

Como prova insofismável, cônscios do significado e dos objetivos da Maçonaria, representando os Obreiros das respectivas Lojas, os Veneráveis presentes à Poderosa Congregação do GOB-RS, realizada em vinte e um de novembro de 2015, aprovaram a proposta do Grão-Mestrado que visa uma resolução definitiva do impedimento de intervisitação e, para tanto, sugeriram a criação de um grupo de estudos e discussões com o fim de viabilizar a possível reunificação, por meio do instituto jurídico adequado.

Isso demonstra que, independentemente das divisões na Maçonaria, e de suas influências externas provindas das variações políticas nacionais e regionais, permanece o pensamento e a ação conjunta dos membros da Instituição para uma unificação, não só no Rio Grande do Sul, mas, em todo o Brasil.

Sob outra perspectiva, não se pode deixar de destacar que, com a austeridade do Grão-Mestrado anterior, liderado pelo Irmão Colombo, permitiu gerar considerável saldo positivo em suas reservas financeiras.

O Grão-Mestrado atual, com a sua formação a contar de vinte e sete de junho passado, ministrou a continuidade das melhorias já em andamento, como também implementou ações para a modernização e a organização das Secretarias. Em síntese, as ações são as seguintes: 1) organização e padronização, via acesso à internet, dos processos na Guarda dos Selos; 2) foi postado um manual ou “cartilha”, no Portal do GOB-RS, quanto aos procedimentos a serem tomados pelas Secretarias das Lojas, além de todos os formulários e modelos oficiais; 3) reorganização dos sistemas de contabilidade e cobrança; 4) ajustamento do plano de contas e mudanças acerca dos serviços contábeis, aperfeiçoando a gestão para atender orientações do Tribunal de Contas; 5) renovação de procedimentos na Secretaria do GOB-RS visando a melhoria do atendimento às Lojas e aos Irmãos; 6) revisão e renegociação de contratos com fornecedores; 7) publicação trabalhos com a postagem no Portal do GOB-RS e proferição de palestras em Lojas.

Importa mencionar, igualmente, que foi feito investimento em prédio alugado na Rua 17 de Junho, o que vem proporcionar a sagração de mais três Templos para o funcionamento de quinze Lojas, uma sala para uso exclusivo da Poderosa Assembleia Estadual Legislativa.

O propósito, portanto, é engrandecer a Maçonaria Regular Simbólica, no Estado, avançando para abrir novas possibilidades, crescendo e aumentando os números quanto as Lojas jurisdicionadas e os de Obreiros filiados, sem olvidar a respeito da qualidade das atividades.

Assim, o Poder Executivo do GOB-RS, constituído pelo Grão-Mestre, Grão-Mestre Adjunto, Grandes Secretários, Ilustre Conselho, Tribunal de Contas e Conselho Estadual, auxiliado nas atuações e exemplos de todos os Irmãos predecessores nos cargos, levando em conta a situação atual e fitando o olhar para o futuro tendem implementar uma administração moderna e dinâmica, para que a Instituição continue com essa coesão e se fortaleça cada vez mais.

Certo é que o GOB-RS não teria o padrão que alcançou se não fosse a abnegação de todos os Irmãos que exerceram as funções de Grão-Mestres, desde 1981, com as mesmas pretensões de fazer as coisas e conseguir resultados, os quais estarão sempre nas nossas lembranças, por suas lideranças, por suas ações em gerir a Instituição, e por consolidar os ideais maçônicos nos seus pronunciamentos.

Texto: Irmão Luiz Fachin
CIM. 178981


[1] http://www.glojars.org.br/historico.php

[2] Ibid.

[3] Id.

[4] Castellani, José. História do Grande Oriente do Brasil. Madras, 2009.

[5] Supremo Conselho, em Manifesto às Lojas que praticavam o Rito Escocês.

[6] http://www.glojars.org.br/lojas.php.

[7] GOMES FILHO, José Clei. Estrela do Rio – Nossas Estórias. Rio de Janeiro. 2014. p. 183 e 184.

[8] http://liberdadeeamorcassia.mvu.com.br/site/fatos-maconicos-por-dia

[9] DIENSTBACH, Carlos. A maçonaria gaúcha – história da maçonaria e das lojas do Rio Grande do Sul. Londrina: A Trolha, 1993. v. 3. p. 527 e v. 1. p. 183.

[10] Ibid. v. 4. p. 666 e 667.

[11] Id. v. 4. p. 675.

[12] TEIXEIRA, Orci Paulino Bretanha, tendo a palavra na Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul. Ata n.º 155 de 12 de março de 2016.

[13] Loc. cit. 9. v. 3. p. 497 e 498.

[14] COLUSSI, Eliane Lúcia. A Maçonaria Gaúcha no Século XIX. PUC-RS. 1998. p. 179.

[15] Dante de Laytano, em História da República rio-grandense (1835-1845). Porto Alegre: Globo, 1936. p. 274.

[16] Ibid. p. 273.

[17] FAGUNDES, Antônio Augusto. Revolução Farroupilha. Martins Livreiro Editora. 3.ª ed. Porto Alegre. 2008, p. 23.

[18] Loc. cit. 11. p. 153.

[19] Ibid. p. 176.

[20] Id. p. 153.

[21] Id. p. 184.

[22] FAGUNDES, Morivalde Calvet. Rocha Negra, a legendária. Londrina: A Trolha, 1989. p. 17.

[23] Loc. cit. 8. p. 184.

[24] Ibid. p. 185.

[25] Id. p. 185.

[26] Id. p. 185.

[27] Loc. cit. 16. p. 17.

[28] Ibid. p. 13.

[29] http://www.aminternacional.org/HistoriaGOB-RS-B.html. Visitado em 27.02.16 – Rosalino Dutra de Araújo.

[30] Ibid.

[31] https://pt.wikipedia.org/wiki/Confederação_Maçônica_do_Brasil, visitado em 02.03.16.

[32] Loc. cit. 12. p. 226.

[33] http://www.gorgs.org.br.

[34] Rosalino Dutra de Araújo, Histórico do GOESUL, p. 6.

[35] Ibid. p. 6.

[36] Id. p. 7.

[37] Id. p. 7 e 8.